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INCOR FAZ MUTIRÃO INÉDITO PARA TRATAMENTO DE MALFORMAÇÃO CONGÊNITA DO CORAÇÃO
16/08/2012
Quarenta pacientes, crianças e adultos, serão submetidos à implantação de prótese por cateterismo, nos próximos três finais de semana. Além de ser uma eficiente opção para melhorar a qualidade de vida desses doentes, esse mutirão é uma excelente oportunidade para alertar a população sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoce das malformações do coração.
Falta de ar para caminhar ou subir escadas e a popular “batedeira no peito” podem ser sintomas de diversos problemas no coração, entre eles as malformações congênitas. Mal que acomete de 6 a 8 crianças entre 1.000 recém‐nascidos, as malformações cardíacas podem levar à insuficiência cardíaca e, nos casos mais graves, à necessidade do transplante de coração ainda nos primeiros anos de vida. Grande parte das pessoas acometidas pelo problema passa a vida sem sequer imaginar o que se passa em seus corações até que os primeiros sintomas de agravamento surgem. Esse foi o caso de José Soares, de 56 anos, que em 2006 teve um mal‐estar que o levou à Emergência do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) e, no hospital, ao diagnóstico de comunicação interatrial congênita (CIA). “Levei um baita susto!”, diz o paulistano, um dos beneficiados pelo mutirão e que, a partir deste sábado (18), poderá voltar a dormir sem sobressaltos.
Além de José, outros 39 pacientes serão submetidos à correção total de sua malformação congênita cardíaca na série de intervenções que o Incor promoverá em três finais de semana, a partir dos dias 18 e 19 de agosto. Será feita a implantação de prótese cardíaca, por meio de procedimento com cateter (veja figuras ao final deste texto). Tal processo dura em média uma hora, com o paciente sob anestesia, e requer 24 horas de recuperação com internação hospitalar. Na cirurgia convencional, a intervenção pode chegar a ter cinco horas de duração e exige até 7 dias de recuperação hospitalar.
"Essa iniciativa é de grande relevância, não só por ser a primeira vez que é realizado um número tão grande dessas intervenções no Incor num único ciclo, como também pelo fato de a técnica a ser utilizada ser menos invasiva do que a cirurgia tradicionalmente empregada nesses casos", diz o Dr. Roberto Kalil Filho, diretor da Divisão de Cardiologia do Instituto.
O cateterismo intervencionista é hoje uma opção ao tratamento cirúrgico, principalmente em pacientes a partir de 5 anos de idade em que a comunicação interatrial (caracterizada como um defeito em forma de orifício) está localizada na porção central do septo, a parede que separa os átrios esquerdo e direito do coração. "Quando há outras malformações congênitas associadas, a correção da CIA por cateter pode ser utilizada em complementação a outras técnicas cirúrgicas corretivas", explica o Dr. Pedro Lemos, diretor do Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Incor e coordenador do mutirão.
Assim como José Soares, Mariana Abade, de 38 anos, moradora de Vargem Grande Paulista, na Grande São Paulo, está contando as horas até que sábado chegue. Seus dois únicos filhos, Cauê dos Santos, de 7 anos, e Bárbara dos Santos, de 18, ambos portadores de CIA, também serão submetidos ao procedimento no Incor. Cauê não tem sintomas além do sopro cardíaco – som característico de diversos problemas do coração, identificado pelo médico na ausculta do coração ‐, mas Bárbara padece de cansaço, palpitação e até mesmo desmaios – o seu jovem coração já apresenta crescimento anormal em seu lado direito.
Seguidores da igreja Testemunha de Jeová, a família convivia com a angústia de, mais cedo ou mais tarde, seus dois filhos terem de ser submetidos à cirurgia de correção e, com ela, ao risco de uma transfusão de sangue – prática condenada pela religião. “Foi um verdadeiro milagre”, diz Mariana. “Nossa condição de vida jamais nos permitiria arcar com esse procedimento”.
Não é, de fato, uma intervenção barata. O preço de mercado dos dispositivos de correção (prótese de oclusão do septo interatrial) gira em torno de R$ 30 mil. Somado aos demais custos envolvidos em uma intervenção especializada como essa, o valor total chega facilmente a R$ 50 mil por cirurgia. Oito empresas colaboram com a iniciativa do Incor, por meio da doação dos dispositivos de correção: ST Jude Medical, Tecmedic Produtos Médicos, Invasive Importação de Produção Médicos, Neomex Hospitalar, Boynton Health Service , CMS Medical, Toshiba e Philips.
Uma equipe de 50 profissionais do Instituto do Coração – entre eles, 30 médicos da Divisão de Cardiologia Clínica e 20 especialistas em enfermagem – estará envolvida nesta ação que visa a acelerar o tratamento de pacientes que aguardam correção de malformação congênita cardíaca no Incor.
A CIA consiste num defeito (orifício) na parede que separa as duas câmaras superiores do coração, os átrios esquerdo e direito. Tal condição resulta no escape de sangue da primeira para a segunda. Isso faz com que o sangue venoso, pobre em oxigênio, e o sangue arterial, que é rico em oxigênio, se misturem. Acarreta ainda aumento expressivo no volume de sangue que corre no lado direito do coração, com vários efeitos negativos à saúde.
Em corações sadios, essas câmaras, pelas quais flui o sangue que é bombeado pelos ventrículos, não têm comunicação entre si. A comunicação interatrial simples, sem associação a outras malformações congênitas no coração, corresponde a 15% de todas as anomalias cardíacas congênitas, em todas as faixas etárias.
Diagnóstico precoce
O Incor é o maior centro de tratamento de cardiopatias congênitas de alta complexidade no Brasil. A cada ano o Instituto realiza cerca de 800 cirurgias de correção desse tipo, 15% delas de CIA. “É importante que o diagnóstico seja feito o quanto antes, pois, dessa maneira, é possível ao médico planejar o melhor momento e o tipo de tratamento para cada paciente”, explica o cardiologista Dr. Edmar Atik, diretor da Unidade Clínica de Cardiopediatria e Congênitos do Incor.
O diagnóstico de CIA inclui avaliação clínica para detecção de sopro cardíaco ‐ auscultado habitualmente pelo pediatra ‐, ou ainda aliado a sintomas de cansaço em decorrência de esforços, predisposição a infecções respiratórias repetidas e deficiência em ganhar peso, dentre os principais.
O ecocardiograma transtorácico e transesofágico confirmam, respectivamente, o diagnóstico e os detalhes da anatomia do defeito no septo, a fim de se instituir a melhor tática de tratamento, seja ela cirúrgica ou por cateterismo.