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Estudo do InCor busca alternativa para coração enfraquecido pela doença de Chagas
09/03/2023
Pesquisa clínica avaliará novo marca-passo para tratamento inédito da insuficiência cardíaca em pacientes com a doença
O InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HCFMUSP) iniciou um estudo com dispositivo para tratamento da insuficiência cardíaca em pacientes com doença de Chagas. Chamado modulador de contratilidade cardíaca, o implante se assemelha tecnologicamente a um marca-passo convencional e que por meio de impulsos elétricos busca melhorar o funcionamento do coração enfraquecido pela doença.
O estudo clínico randomizado incluirá 60 pacientes com quadro de insuficiência cardíaca, em que a força do coração ainda possa ser recuperada, para melhorar o bombeamento do sangue para o corpo. O funcionamento do novo aparelho vai ser comparado com um tipo de marca-passo denominado ressincronizador que tem sido utilizado em pacientes com doença de Chagas e insuficiência cardíaca.
“Este é o primeiro estudo no mundo para tratar os efeitos da doença de Chagas com esta nova terapia clamada de modulação de contractilidade cardíaca (CCM®) que poderá melhorar o desempenho do coração. Os resultados podem abrir caminho para uma nova e inédita opção de tratamento da insuficiência cardíaca em pacientes com a doença, que é um problema efetivamente brasileiro”, explica Prof. Martino Martinelli, diretor da Unidade Clínica de Estimulação Cardíaca do InCor.
O estudo tratará os pacientes com o dispositivo CCM®, do sistema Optimizer® Smart, fornecido pela Impulse Dynamics, empresa norte-americana que desenvolve aparelhos para o tratamento minimamente invasivo da insuficiência cardíaca. O procedimento de implante do dispositivo CCM está incluso na última Diretriz Brasileira de Dispositivos Cardíacos Eletrônicos de 20231, mas ainda não está disponível na rede de saúde do SUS ou da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), e será aplicado conforme protocolo de pesquisa elaborado e coordenado pelo InCor.
O diferencial deste aparelho, tecnicamente um modulador da contratilidade cardíaca, está no momento em que libera o impulso elétrico durante o ciclo do batimento cardíaco. Ele entra em ação quando o órgão se contrai, ou seja, quando o coração funciona como uma bomba e ejeta o sangue que suas cavidades captaram no momento do relaxamento. Além disso, diferente de marca-passos convencionais, o aparelho libera o pulso elétrico a cada batimento, funcionando de forma constante enquanto estiver acoplado no coração.
“Das alternativas que se tem para tratamento da insuficiência cardíaca, o transplante de coração é o padrão ouro, mas ele tem suas limitações, como disponibilidade de doadores e fila de espera por um órgão. Na outra mão temos medicamentos, ressincronizador e outros aparelhos de suporte mecânico, que nem sempre dão conta da evolução da doença. Esse entrave justifica a busca por procedimentos que melhorem as opções para pacientes crônicos”, ressalta o Prof. Martino.
O estudo chamado FIX CHAGAS está em andamento e quatro pacientes já foram incluídos no protocolo de pesquisa. A expectativa é que em seis meses de acompanhamento seja possível observar os resultados e efeitos na qualidade de vida dos participantes.
Dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia indicam que cerca de 2 milhões de pessoas vivem com insuficiência cardíaca no país, sendo que 240 mil novos casos são registrados por ano2. A doença está entre as principais causas de mortalidade relacionada ao coração e afeta diretamente a qualidade de vida, causando insuficiência renal, fadiga extrema, inchaço, dificuldade para respirar e realizar exercícios físicos, desde uma caminhada leve até atividades intensas.
A insuficiência cardíaca é conhecida como a linha final das doenças do coração e se desenvolve devido a lesões que acometem o órgão, como um infarto e no caso o desenvolvimento da doença de Chagas. Esta é uma doença tropical negligenciada, que teve seu pico de incidência e infecções no Brasil ao longo do século e permanece como um desafio para a saúde no país. Relatórios do Ministério da Saúde indicam que cerca de 1 milhão de pessoas foram infectadas pelo Trypanosoma cruzi no Brasil, mas que o número real pode chegar a 4,6 milhões de pessoas3. Dessas, 30% evoluirão para a forma da doença que mais causa morbidade e mortalidade, a cardiopatia chagásica crônica, que pode se manifestar por arritmias, insuficiência cardíaca e tromboembolismo.
Teixeira et al. Brazilian Guidelines for Cardiac Implantable Electronic Devices – 2022; DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20220892